É comum ficar em dúvida sobre qual o cabo correto para cada aplicação do seu barco. Pensando nisso, a V.elo traz a você uma série para explicar as características necessárias para que você tome a melhor decisão e atinja seus objetivos.
Um dos fatores principais na escolha dos cabos é o material da alma: poliéster, Spectra® e Dyneema® são as opções mais comuns, que vão ter vantagens diferentes para aplicações específicas. Mas como escolher a opção correta para seu barco?
Em primeiro lugar, é preciso se certificar que os cabos analisados tenham máxima durabilidade e sejam capazes de proporcionar total segurança. Seja por lazer ou performance, a segurança a bordo é um valor inegociável. E para isso, é necessário entender as diferenças entre os materiais.
No caso dos cabos double braid (dupla trança formada por alma + capa), as duas principais características que você deve analisar são carga de ruptura e taxa de alongamento.
Carga de ruptura se refere à força do cabo, e indica a carga necessária para romper o cabo em tensão. A carga média de trabalho de um cabo deve ser entre 25 e 30% da sua carga de ruptura. A escolha correta dos cabos de acordo com a carga de cada função é essencial para conservar a durabilidade tanto do material, como das ferragens e dos equipamentos do barco. É fundamental que todo o sistema trabalhe em harmonia.
Já o alongamento refere-se à elasticidade do cabo: o quanto ele estica e alonga quando está sendo usado com carga. A elasticidade de um cabo deve levar em consideração o objetivo da sua aplicação. O alongamento pode ser útil em cabos de atracação, que absorvem o impacto do balanço do barco no píer. No entanto, em casos como adriças, por exemplo, a elasticidade é uma característica negativa, fazendo o cabo “ceder” durante o uso e influenciando na altura e formato da vela.
Por padrão de medição, a taxa de alongamento é aferida aplicando 50% da carga de ruptura do cabo, uma vez que a carga de trabalho mais comum em veleiros de regata ou lazer é em cerca de 25 a 30% e, portanto, não passa dos 50% mesmo em usos mais extremos.
O material escolhido para a alma do seu cabo está diretamente relacionado à função que o cabo vai exercer no barco. Os tipos de almas dos cabos são: Poliéster (PES Pré-estirado), Dyneema® (Dy-PES) e Spectra® (Ultra-PES).
Você pode conferir os cabos com os três tipos de alma no catálogo digital da V.elo.
Cabos com alma de Poliéster
Alma de Poliéster: ideal para monotipos, veleiros de pequeno porte e barcos de cruzeiro.
Os cabos de poliéster são os mais comuns e versáteis do mercado, com as possibilidades de aplicação indo de atracação a escotas e adriças. É um material forte e muito resistente à abrasão, calor e raios UV.
Para barcos pequenos e monotipos, ou barcos de cruzeiro e passeio, os cabos com alma de poliéster são uma excelente opção e apresentam ótimo custo-benefício. Seus maiores diferenciais são a excelente durabilidade e maciez. Por isso, são recomendados principalmente para cabos de alto manuseio, como escotas e controles.
A alma de poliéster, no entanto, apresenta maior alongamento e menor carga de ruptura que as opções de HMPE, de modo que não são os mais indicados para aplicações de cargas muito altas ou de extrema precisão.
Os cabos com alma de poliéster costumam apresentar por volta de 8% de taxa de alongamento. Num cabo de 10m, trabalhando a 50% de sua carga de ruptura, isso significa um alongamento de 80cm.
No entanto, é importante destacar que os cabos não costumam trabalhar com tanta carga. Por exemplo, um PES de 10mm de bitola teria que trabalhar com mais de 1 ton para estar a 50% da sua carga de ruptura. Mas imagine uma adriça cedendo de 10 a 20 cm, a diferença que pode fazer na forma de uma vela.
Cabos com alma de Spectra®
Alma de Spectra®: ideal para monotipos e veleiros acima de 30 pés.
Em barcos cruzeiros com mais de 30 pés, nossa recomendação é a utilização do Ultra-PES, uma variação da linha V.elo Cruzeiro, com alma de Spectra®. A alma de Spectra® basicamente dobra a carga de ruptura do cabo, com a taxa de alongamento caindo para apenas 2,2%.
Além de maior segurança a bordo, o uso do Ultra-PES permite a utilização de bitolas menores, reduzindo o peso total do material e o esforço de todo o sistema. É uma opção mais adequada ao esforço destas aplicações, aumentando também a durabilidade do cabo.
Por não possuir coating (resina protetora) adicionada aos fios da alma, o Ultra-PES não é indicado para aplicações em que haverá uso da alma de forma exposta, sendo puxada para fora da capa. Nesses casos, as almas de Dyneema® são a melhor opção.
Cabos náuticos com alma de Dyneema®
Alma de Dyneema®: barcos de competição de alta performance.
Quando falamos em barcos de competição e alta performance, onde a precisão na trimagem e regulagem das velas é crucial, o melhor cabo é o que possua alma de Dyneema®.
Seu foco deve ser uma das opções disponíveis nas linhas Dy-PES e Dy-Tech, com alma de Dyneema® em todas as suas variações.
Dyneema® é a principal marca de fios HMPE do mercado. Trata-se de um material incrivelmente forte e leve, com altíssima carga de ruptura e quase nenhum alongamento. Como curiosidade, o Dyneema® pode ser de dez a quinze vezes mais forte que o aço, se comparado ao mesmo peso de material utilizado.
Essas características fazem com que as almas de Dyneema® sejam a principal opção para barcos de alta performance e veleiros grandes, pois além da confiabilidade, permitem o uso de cabos com bitolas menores e até aplicações sem capa, com uma drástica redução de peso do material total do barco.
A baixíssima taxa de alongamento de 1,7% da alma de Dyneema®, combinada à alta carga de ruptura, oferece incrível precisão na regulagem e trimagem das velas. Adriças e escotas que não cedem com o esforço do vento e aumento das rajadas garantem que as velas mantenham o formato e a curva de potência no lugar certo.
Leveza e resistência dos cabos com alma de Dyneema® também são diferenciais específicos para as escotas de balão. Além de resistir às altas cargas do vento em popa, a alma de Dyneema® pode ser usada exposta nas extremidades das escotas, reduzindo drasticamente o peso dos cabos. Isso é imprescindível para não atrapalhar o balão em ventos fracos.
Isso só é possível devido à aplicação de coating (resina protetora), que pode ser feita em diferentes cores e que acrescenta significativa proteção à exposição UV e especialmente à abrasão do contato direto do fio com superfícies como moitões, olhais e outras ferragens a bordo.
Como sua fibra é extremamente lisa e suave, a alma de Dyneema® exposta também é excelente para facilitar as manobras e trocas de vela com menos fricção e para deslizar nos diversos sistemas de reduções dos cabos de controle. Pelo mesmo motivo não é recomendado o uso direto sem a capa adequada em aplicações de alta abrasão e grip, como catracas, mordedores e stoppers.
Com tamanha diferença em carga e alongamento, a escolha do material correto para cada aplicação é crucial. Tomemos por exemplo um barco de 30 pés, com mastro de 12m e 15m de adriça em uso, do top da vela até o stopper. Com a vela mestra trabalhando em média com 300kgf, o alongamento de uma adriça de 10mm com alma em poliéster pode chegar a até 30cm, comparada a apenas 5cm do cabo com alma em Spectra e mínimos 3cm com alma de Dyneema.
Impressionante, certo? Para entender melhor sobre as aplicações específicas de cada cabo e melhorar a performance, cuidados e segurança à bordo, assine nossa newsletter aqui.Sempre lembrando: é importante conhecer a embarcação e o contexto da navegação para fazer a escolha ideal.